terça-feira, 27 de janeiro de 2009
Vontade do mundo
Uma urgência em ser, em saber tudo, viver tão mais e em tantos outros lugares, com tantas outras pessoas. De saber falar todos os idiomas, conhecer os traços mais exóticos, olhar o mundo dos mais múltiplos ângulos.
Chega a ser algo físico, um entusiasmo violento que dá vontade de empurrar tudo o que está na frente e correr até encontrar o desconhecido, que exija de mim um novo aprendizado.
Todas as músicas, quadros, textos, aulas, paisagens, cheiros e sabores ficaram hoje insignificantes perto do que ainda existe para sentir.
A dúvida é se a culpa é minha, que caminho devagar demais, ou desse tempo confuso, que faz o mundo girar tão rápido certas vezes.
Preciso dar conta, correr, e me superar tanto e tanto. Só pelo prazer de descobrir, a cada momento, que nunca vou conhecer tudo. Sentir que tenho mais um passo pra dar e uma janela nova pra abir.
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
Tanta falação
É uma avalanche tão grande de argumentos tentando convencer que fica difícil encontrar algum que mereça credibilidade. Fico tão cansada.
Geralmente as palavras que menos satisfazem vem seguidas de algumas grosserias e um bom tanto de desonestidade, são as mais bem arrumadas e menos confiáveis. Por precaução eu evito acreditar em conversas tão bonitas, nesse idelismo todo. Elas frequentemente funcionam como um calmante: te dão alívio, sono tranquilo e a esperança de que tudo ficou bem. Só no dia seguinte é que você quebra a cara quando se dá conta do efeito momentâneo e improdutivo.
Nem sou adepta do habitual "confiança é como cristal". Tenho prazer na mutação, construção e descontrução constante. Já aviso que não vão encontrar por aqui algo pronto, acabado, não mesmo. Espero que nunca. Mas nem o caos sobrevive sem consistência.
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
No meio do caminho
Uma vez vi um gatinho deitado na rua, encostado em um poste. Ele não devia ter nem um mês, era cinza, olhinhos fechados e todo encolhido, se escondendo do mundo. Cheguei perto, já pensando em uma maneira de convencer a minha família a aceitar um gato em casa, e, quando minha mão estava quase tocando o pelo dele, notei que ali já não tinha mais vida: a barriga estava toda aberta e nem os vermes que saíam dela se moviam mais.
Fazia uns 30 graus e o sol era tão forte em cima dele. Tinha gente indo e vindo, carro passando, ônibus fazendo barulho. Ficava difícil notar ele lá no meio.
Passei pelo menos uma semana pensando no gato. Em como o bichinho foi andando no meio da confusão até deitar no cantinho da rua e deixar os vermes o consumirem.
Hoje, vindo para o trabalho, vi na passarela a mulher que mora na rua e bebe pinga no bar do lado da minha casa. Ela tava lá no meio da poluição sonora, caída no chão, com o rosto todo inchado e remelas nos olhos. Apesar de ainda ter vida, parecia sem.
Passava tanta gente correndo pra pegar o ônibus ou chegar a tempo na aula de enfermagem do hospital ali do lado. Ela continuava lá, como se a pressa não deixasse ninguém enxergar.
Passei correndo também. Não tentei encostar nela e nem me preocupei se ela precisava ser tirada dali. Fiquei culpada... só isso.
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
Só passando

Geralmente tão devagar que de dentro do vagão nem dá prá sentir o movimento.
Só algum tempo depois, sem querer, você se dá conta de que está lá, exatamente onde queria.
Às vezes é tão difícil perceber o passo em que a vida caminha que uma ou outra conquista acaba perdendo valor no meio de toda essa bagunça.
Bom é de repente notar que você, dia a dia, deu novas formas àquilo que precisava ser transformado e seus olhos enxergam agora uma escultura que parece trazer mais beleza do que realidade, de tão impressionante que é.