sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

No meio do caminho

Uma vez vi um gatinho deitado na rua, encostado em um poste. Ele não devia ter nem um mês, era cinza, olhinhos fechados e todo encolhido, se escondendo do mundo. Cheguei perto, já pensando em uma maneira de convencer a minha família a aceitar um gato em casa, e, quando minha mão estava quase tocando o pelo dele, notei que ali já não tinha mais vida: a barriga estava toda aberta e nem os vermes que saíam dela se moviam mais.

Fazia uns 30 graus e o sol era tão forte em cima dele. Tinha gente indo e vindo, carro passando, ônibus fazendo barulho. Ficava difícil notar ele lá no meio.
Passei pelo menos uma semana pensando no gato. Em como o bichinho foi andando no meio da confusão até deitar no cantinho da rua e deixar os vermes o consumirem.

Hoje, vindo para o trabalho, vi na passarela a mulher que mora na rua e bebe pinga no bar do lado da minha casa. Ela tava lá no meio da poluição sonora, caída no chão, com o rosto todo inchado e remelas nos olhos. Apesar de ainda ter vida, parecia sem.

Passava tanta gente correndo pra pegar o ônibus ou chegar a tempo na aula de enfermagem do hospital ali do lado. Ela continuava lá, como se a pressa não deixasse ninguém enxergar.

Passei correndo também. Não tentei encostar nela e nem me preocupei se ela precisava ser tirada dali. Fiquei culpada... só isso.

2 comentários:

  1. olha sóóóó, que bunito gi gostei...
    A menina ta poetica :O

    quero ver mais...

    bjomeliga

    ResponderExcluir
  2. Ultimamente só tenho ouvido essa palavra de você: culpa. Será que, pelo menos em alguns momentos da sua vida, você conseguiria se esquecer um pouquinho dela? Na maioria das vezes, você tendo feito aquilo ou não, as coisas iriam tomar um mesmo caminho, ou talvez parecido... Entende o que quero dizer? Love u

    ResponderExcluir